//Cumprimentos e a Terceira lei de Newton

Domingo passado encontrei um amigo meu. Ele tem 8 anos. O encontro foi num corredor não muito comprido, dono de umas 6 a 8 portas. Fui beber água e lá estava ele, saindo de uma das portas. Assim que me viu abriu um sorrisão. Eu fiz o mesmo. Enquanto eu tomava água, ele caminhava em minha direção com um andar quase marrento. Como qualquer garoto dessa idade um cumprimento maneiro tem seu lugar. Ele escolheu um contemporâneo – um tapa na mão do parceiro, seguido de um soco. Apesar da não originalidade da saudação, senti firmeza, força até. Confesso, doeu um pouco. Mas fiz pose de durão. Ele, por sua vez, apesar de muito macho, foi mais sincero. “Ai! Doeu em mim, vei!”. Desde novo aprendendo a terceira lei de Newton. Não pude evitar outro sorriso e me identifiquei – “senti uma dorzinha também”.

Diante da cena fiquei filosofando: é bem verdade a máxima de que “aquilo que você planta, isto você vai colher”. E não é nada diferente nos relacionamentos! Se demonstro amor e afeto a uma pessoa, a chance de ser amado de volta é grande. Assim como se machuco ou irrito alguém, corro o mesmo risco de ser machucado ou irritado por este mesmo alguém (ou até por uma gangue amiga deste alguém!). E esta reação pode ser imediatamente a seguir à minha ação ou vir tempos depois.

Agora, um detalhe que não havia atentado até encontrar esse meu amiguinho: independente de quando a reação da outra pessoa virá, é certo que no exato momento da minha ação já é possível sentir seus efeitos. Veja bem, quando meu amigo me cumprimentou, eu não fiz praticamente nada além de estender a mão para que ele pudesse bater. Se eu fosse da idade dele ou um pouco mais revoltadinho do que sou poderia revidar o cumprimento e bater de volta em sua mão com a mesma força ou com uma maior. Esta seria a minha reação a ação dele. Mas eu não fiz nada – fiquei imóvel. E mesmo assim ele sentiu dor, efeito imediato e proporcional à força empregada no ato de me cumprimentar.

Penso que, quando faço bem ou quando magoo outra pessoa, independente da reação desta, já é possível sentir o efeito da minha ação. Eu sinto prazer, e um sorriso logo vem, quando vejo que fiz a coisa certa para com o outro. E, da mesma forma, sinto-me mal ao ver que poderia fazer o bem ao outro e não faço ou, pelo menos, evitado de fazer o mal e não, da mesma forma, não evito. Dói, isto sem uma reação da pessoa que ofendi.

A percepção dessa “reação” de que estou falando depende muito da sensibilidade de cada um. Têm pessoas que são totalmente insensíveis e por isso se tornam um poço de grosseria. E têm pessoas que são sensíveis ao extremo, que se sentem culpadas por qualquer suspiro desferido em direção ao próximo. Independente disso, esta “reação” nos afeta significativamente – inclusive, potencializando a nossa sensibilidade ou insensibilidade se não lidarmos com maturidade ou se a ignorarmos.

Esta filosofia toda é pra dizer que não vou deixar de cumprimentar ou receber os cumprimentos do meu amiguinho (ou amigões) – independente da força empregada, inclusive. Mas, quero tomar cuidado com minhas ações que podem realmente ferir o coração deste meu amiguinho (e dos meus amigões). Posso me ferir na mesma intensidade.

Amizade e a estrela

Se a estrela é toda a riqueza do céu

Seu valor passa a ser ínfimo

E o mistério do que é infinito

Continua inexplorável

 

Ao passo que

Se as constelações me inspiram

A mergulhar em anis desconhecidos

Aí sim encontro valor em viajar

Na beleza de cada estrela

 

Há coexistência de sentido:

Da estrela ser parte do todo que desejo sondar

E passo a caminhar ao seu lado

Ser seu amigo e cúmplice

De verdades gêmeas

Nascemos para o mesmo fim:

Desfrutar da beleza do intangível

E voar

 

Se sua companhia é todo o sentido da caminhada

Restará à ti apenas Afeição

E o mistério de sermos dois amigos (viajantes)

Não existirá, pois não haverá caminho

 

Ao passo que

Se o caminho torna-me um explorador

E nele encontro um irmão de caminhada

Sua companhia será um presente:

Não caminho só, pela verdade

 

Há amizade por um sentido:

Dois que caminham lado a lado

Absortos em um interesse comum

Imersos na luta de explorarem as constelações

E acabarem se tornando exploradores de si

Sendo mais de si mesmo quando compartilham

Do mesmo gosto por sonhar

E andar

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Baseado em trechos do livro “Os Quatro Amores” de C. S. Lewis