E lá vem Deus…

Comecei a fazer esse texto na época das enchentes na região serrana do RJ. Só consegui terminar agora…

“Prepararam uma canção,
Como a que desejo preparar,
Para que alguns se reconheçam
E vejam que meus olhos falam
Enquanto em silêncio está meu coração.
E é bem possível que chore,
Mas meu olhar está atento,
Quer penetrar a alma de quem sofre
E dizer o que do alto ouço:
Eu te vejo!”

Elevo os olhos para os montes. E estes são escombros que se deitam esparramados sobre as casas de irmãos meus, semelhantes meus. Parece não vir socorro de lá. Só se houve um choro sem som ou um clamor mudo, debaixo daquilo que pode ser a tumba de muitos queridos. Parece não haver esperança.

“E lá vai Deus, sem sequer saber de nós” é o que cantam com o penúltimo fôlego que lhes restam. E com o ultimo me perguntam “o seu Deus, onde está?”.

Como as águas que dessem torrenciais contra aquelas cidades e devastam vidas e sonhos, assim são as ondas de tristeza na alma angustiada de quem vê perder um amor, um amigo, uma caminhada inteira. As lágrimas, que inundam os corações tal qual as enchentes, tornaram-se o alimento diário de muitos. E a pergunta ainda ecoa “o seu Deus onde está?”

O meu Deus. Ele não é de sumir. Pode permanecer em silencio, mas nada passa sem ser percebido por seu coração. E nessa esperança, permaneço com os olhos por sobre os montes. “E lá vem Deus, querendo saber de nós”. E não vem só. Traz consigo uma multidão de corações solidários dispostos a erguer os montes que estão sobre os que choram. Sim, lá vem Deus, o Deus que intervém sem ser percebido, com sua graça e misericórdia em forma de doações de roupa, alimento, esperança e um sorriso.

E lá vem Deus. Levantem-se. Ele ira consolar vocês.