Lição do Pneu

Se você conhecesse o Lucas ficaria surpreso com que o vi fazendo hoje. Das duas uma: ou ele estava revoltado com quem ele é e resolveu agir como outra pessoa, ou as terapias que ele anda fazendo estão, definitivamente, surtindo efeitos práticos. O que ele fez? Trocou um pneu furado! Se a primeira opção fosse a certa, com certeza ficaria frustrado ao descobrir que o preço pago para dar uma de borracheiro ou mecânico beirou o ridículo. Um ser franzino como o Lucas jamais deve querer se afirmar na figura de um bonachão super forte, a não ser que queira fazer os outros rirem.
O fato é que, reparando suas atitudes nos últimos dias, ‘trocar o pneu’ pareceu ter um sentido mais significativo. Devo afirmar: Lucas está, finalmente, aprendendo a encarar as dificuldades que lhes são apresentadas e as possíveis frustrações que acompanham essas dificuldades. Em outro tempo, não duvidaria de sua capacidade de ‘abandonar’ o carro por ali mesmo até que alguém oferecesse ajuda ou resolvesse o problema para ele. Afinal de contas, o esforço que ele teria para vencer sua preguiça e em seguida encarar a possibilidade (veja bem, a “possibilidade”) de reconhecer que não seria capaz de concluir sua tarefa não valeria a pena. Por que enfrentar algo que é bem possível ser real se você pode fugir da realidade?
O fato é que fugir da realidade não resolve o problema de você ser um fraco. E, além disso, é possível que seu sofrimento já seja grande o suficiente só com essa possibilidade, e viver com essa angústia é sufocante. Até onde eu sei, Lucas era bem assim. Exitava ao primeiro sinal de mostrar suas fraquezas, com medo de ser rejeitado pelas pessoas. E ainda convivia com a agonia de não saber se poderia lidar ou não com o problema eminente. Mal sabia ele que a verdade o libertaria e o faria amadurecer. Porque se ele não fosse mesmo capaz de resolver seus problemas, encará-los seria uma boa oportunidade para aprender.
Tenho a impressão, na verdade, que é justamente a essa conclusão que ele está chegando. Não é à toa que Lucas realmente trocou o pneu. E, para sua surpresa, sozinho! Claro que ele fez uma oraçãozinha num momento em que um dos parafusos estava emperrado — que no final funcionou. Pela expressão dele, parece que é realmente mais válido lidar com o que é real. Afinal de contas ele pode dar de cara com uma realidade boa. E se não for, tudo bem também. É sempre bom ter oportunidade para aprender com nossas dificuldades.

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